Tuesday, January 24, 2012

EXAME_EXERCÍCIOS OBRIGATÓRIOS

diário gráfico desenvolvido

Exercício de estilo 1

Seleccione na aula um personagem de BD reconhecido por todos e com o qual se identifique.


Descreva as principais características físicas e psicológicas do personagem.

Redesenhe o personagem com uma técnica/estilo que vá drasticamente contra as características do personagem, mantendo a mesma forma, cores, proporção...

Redesenhe o personagem com uma técnica/estilo na qual as características do personagem sejam exageradas mantendo cor, forma e proporção do personagem.

Serão valorizados estudos de materiais/estilo e estudos de cor.

Entrega próxima aula.


Entrega de 2 trabalhos finais
Formato A3 c moldura (área útil A4) ao alto
O trabalho não deve ser apresentado colado com cola,
mas com fita cola anti-ácida e passepartout.
Um dos trabalhos pode ser digital.

(para ser continuado)

PALAVRA DA SEMANA PARA DIÁRIO GRÁFICO: ANIMAL


"Continuação do trabalho anterior"

Processo criativo

A começar na aula. Seleccionar um personagem e imaginar a pessoa real que lhe deu origem, esboços na aula, técnica livre, realista.

Formato A3 Papel de boa qualidade e adaptado ao material.
Entrega dia 10 de Novembro



Palavra da semana: CALMA

Auto-retrato

Fase 1
Reflectir sobre ideias/palavras chave que definam o aluno.
Pensar em todas as possibilidades tendo em vista uma apresentação do aluno à turma. (mesmo as ideias mais óbvias podem ter potencial para ilustrações finais).
Elaborar 20 esboços na aula.

Fase 2
Pesquisar (coleccionar imagens que possam estar relacionadas com as ideias escolhidas,
ver bancos de imagens, tirar fotografias, ir ao google images, ver enciclopédias...)
Esboçar estudos variados no diário gráfico ao longo da semana.
-------------------------------------------------------------------------------------
Escolher alguns estudos, seleccionar as melhores ideias, pensar em possibilidades técnicas para cada uma destas.

Fase 3
Finalização.
Elaborar várias possibilidades técnicas para a resolução do mesmo problema.
Escolher a melhor e finalizar.

Entrega de todas as fases e final na próxima aula
Tamanho e técnica livres



Ilustração Científica

Desenvolvimento de Ilustração de Inseto,
escolhido de acordo com a docente,
e segundo as técnicas tradicionais discutidas na aula.
O trabalho deve ser entregue em papel próprio para a técnica escolhida,
formato A2 ou A3 (mínimo e para trabalhos de menores dimensões).
Opções: Tinta da china, aparo ( e eventualmente aguarela com aprovação da docente), ou lápis de cor.



CARTAZ


Ilustração para Design
Trabalho II
Ilustração para cartaz TURNO 2!

A partir do levantamento/decalque de texturas de vários tipos,
pretende-se que o aluno crie 10 imagens em suporte livre de formato A2 e que ilustrem 10 doenças/distúrbios de foro psicológico.

Exemplos de distúrbios:

Anorético
Agorafóbico
Bulímico
Claustrofóbico
Depressivo
Hipocondríaco
Histérico
Neurótico
Maníaco–Depressivo
Obsessivo-Compulsivo
Esquizofrénico

1.escolher/associar texturas a doenças
2.copiar as texturas experimentando diversos registos gráficos, manipular as imagens e/ou experimentar outros materiais
4.escolher os registos que funcionam melhor para cada doença.

Produção dos cartazes:
todos os cartazes têm de ser manuais, podem ser digitalizados apenas para impressão final. tirar partido dessa manualidade.
2 cartazes não podem ter elementos gráficos adicionais, funcionam apenas partindo da textura.

5.Apresentação final das propostas para cada doença.
Objectivo:
tirar partido dos materiais, papel/suporte, acabamentos, efeitos, recortes, prefurações, vernizes, decalques, gravura, cenografia... tudo partindo da textura.

UMA TEXTURA POR DOENÇA!



Ilustração Editorial/Adaptação


Brainstorm / 20 esboços para a próxima aula

Uma Gota de Chuva na Cara


"Se não fosse gago era-me fácil conversar com ela. Mora três quarteirões adiante do meu, apanhamos o mesmo autocarro todos os dias, eu na quarta paragem e ela na quinta, olhamos imenso um para o outro durante os vinte minutos

(meia hora quando há trânsito)

do percurso entre o nosso bairro e o ministério, ela trabalha dois andares acima de mim, subimos no mesmo elevador sempre a olharmo-nos, às vezes até parece que me sorri

(tenho quase a certeza que me sorri)

vemo-nos de longe no refeitório cada qual com o seu tabuleiro, ia jurar que me fez sinal para me sentar na mesa dela, não me sento por não ter a certeza que me fez sinal

(acho que tenho a certeza que me fez sinal)

voltamos a olhar-nos no elevador, ela volta a sorrir quando saio, volta a olhar para mim no autocarro de regresso a casa e não sou capaz de falar com ela por causa da gaguez. Ou melhor não é só a gaguez: é que como as palavras não me saem, como quero exprimir-me e não consigo, fico roxo com os olhos de fora

(pus-me diante do espelho e é verdade)

de boca aberta, cheia de dentes, a tropeçar numa consoante interminável, a encher o ar à minha volta de um temporal de perdigotos aflitos, e não quero que ela repare como me torno ridículo, como me torno feio, como me torno, fisicamente, numa carranca de chafariz, a cuspir água aos soluços num mugido confuso. Com os meus colegas do emprego é simples: faço que sim ou que não com a cabeça, resumo as respostas a um gesto vago, transformo um discurso num erguer de sobrancelhas, reduzo as minhas opiniões sobre a vida a um encolher de ombros

(mesmo que nao fosse gago continuaria a reduzir as minhas opiniões sobre a vida a um encolher de ombros)

ao passo que com ela seria obrigado a dizer coisas por extenso, a conversar a segredar-lhe ao ouvido

(se eu me atrevesse a segredar-lhe ao ouvido aposto que tirava logo o lenço da carteira para enxugar as bochechas e fugia assustada)

a segredar-lhe ao pescoço, a enredá-la numa teia de frases

(as mulheres, julgo eu, adoram ser enredadas numa teia de frases)

enquanto lhe pegava na mão, descia as pálpebras, esticava os lábios na expressão infinitamente estúpida dos namorados prestes ao beijo, e agora ponham-se no lugar dela e imaginem um gago desorbitado a aproximar-se de vocês escarlate de esforço, a abrir e fechar a boca prisioneiro de uma única silaba, a empurrar com o corpo todo um

- Amo-te

que não sai, que não consegue sair, que não sairá nunca, um

- Amo-te

que me fica preso na língua num rolhão de saliva, eu a subir e a descer os braços, a desapertar a gravata, a desabotoar o botão do colarinho, o

- Amo-te

nada, ou, pior que nada, substituído por um berro de gruta, ela a afastar-se com os braços estendidos, a levantar-se, a desaparecer porta fora espavorida, e eu sozinho na pastelaria debruçando-me ainda ofegante para o chá de limão e o pastel de nata da minha derrota definitiva. Não posso cair na asneira de conversar com ela, é óbvio que me tenho que conformar com os olhares no autocarro, com o sorriso no elevador, com o convite mudo no refeitório até ao dia em que ela aparecer de mão dada com um sujeito qualquer, se calhar mais velho do que eu mas capaz de lhe cochichar na orelha sem esforço

(há pessoas que cochicham sem esforço)

o que eu adorava explicar-lhe e não consigo até ao dia em que deixar de me olhar, de sorrir, de convidar-me a sentar a sua frente durante o almoço

(sopa, um prato à escolha entre dois, doce ou fruta, uma carcaça e uma garrafa pequena de vinho, tudo por quatrocentos e quarenta escudos não é caro)

e eu a vê-la na outra ponta do autocarro a poisar a testa no ombro de um sujeito qualquer, sem reparar em mim, sem reparar sequer em mim como se eu nunca tivesse existido e compreender que por ter deixado de existir não existi nunca, e nessa noite ao olhar-me no espelho não verei ninguem ou verei quando muito um par de olhos

(os meus)

que me censuram, um par de olhos com aquilo que ia jurar ser uma lágrima a tremer nas pestanas e a descer devagarinho pela bochecha fora, ou talvez não seja uma lágrima e apenas

(porque será inverno)

uma gota de chuva, sabem como é, a correr na vidraça."





in Algumas Cronicas by Antonio Lobo Antunes


Desenvolvimento de uma ilustração A5 (formato final, podendo ser realizada em formato maior e depois digitalizada e redimensionada) para o conto Uma Gota de Chuva na Cara, de António Lobo Antunes.
Deve ser apresentada também uma ilustração de rodapé complementar (pormenor, capitular, etc...)
Técnica Livre
Entrega de 20 esboços e pesquisa

Thursday, January 12, 2012

A ler

http://lerbd.blogspot.com/search/label/Adapta%C3%A7%C3%A3o



A Ler!
http://lerbd.blogspot.com/2009/05/ilustracoes-para-edgar-allan-poe-obra.html
Exemplos de Adaptações BD/Ilustração

In BD Boom Fichas de Leitura Bedeteca de Lisboa

"
Filipe Abranches, desenho
Raul Brandão, autor da obra adaptada
O Diário de K.
Col. Prontuário #4, Edições Polvo, 2001
A partir de “A Morte do Palhaço”


Filipe Abranches, des.
João Paulo Cotrim, arg .
A l - M u ’t a m i d
Revista Ler nº 51, Círculo de Leitore s
Biografia com adaptação de poemas
de Al-Mu’t a m i d


F e rnando Bento, des.
R o b e rt-Louis Stevenson, autor da obra
a d a p t a d a
A Ilha do Te s o u ro
Edições Asa, 1991
R e g resso à Ilha do Te s o u ro
Edições Asa, 1991


F e rnando Bento, des.
P.C. Wren, autor da obra adaptada
Beau Geste
Futura, 1982


E.T Coelho, des.
Eça de Queirós, autor da obra adaptada
A To rre de D. Ramire s
Antologia da BD Portuguesa, Futura, 1989


João Chambel, arg. e des.
Daniel Lopes, arg. e des.
Heróis da Literatura
P o rt u g u e s a
Íman edições, 2002
Baseado nos universos de Álvaro do
C a rvalhal, Teixeira de Pascoaes,
F e rnando Pessoa, Mário de Sá-Carn e i ro,
António Ferro e Mário Cesariny


Cécile Chicault, des.
I rmãos Grimm, autores da obra adaptada
Os Três Cabelos de Ouro do Diabo
M e r i b é r i c a / L i b e r, 2001


R o b e rt Crumb, des.
David Zane Mainowitz, arg .
Kafka para Principiantes
D. Quixote, 2000
Biografia e adaptações de tre c h o s


Diniz Conefre y, des.
H e r b e rto Hélder, autor da obra adaptada
A rq u i p é l a g o s
Iman edições, 2002


João Cunha, des.
Milan Kundera, autor da obra adaptada
Bem Alto
Mutate & Survive,
Associação Chili Com Carne, 2001
E x c e rto de “A insustentável leveza do ser”.


José Carlos Fernandes, des. e arg
Alguém Desarruma Estas Rosas e
Outras Estórias
P e d r a n o c h a rco, 1997
Antologia do autor que inclui adaptação
dos contos de Gabriel Garcia Marq u e z ,
“Alguém desarruma estas rosas” e “Diálogo
do Espelho”, dos contos de Ray Bradbury,
“The day it rained forever”, “The Dragon” e
“As Mulheres”; e um trecho de “A Peste”,
de Albert Camus.


José Carlos Fernandes, des. e arg .
Av a r i a
Casa da Cultura de Loulé, 1995
Antologia do autor que inclui
“O espaço entre as estrelas” inspirado num
poema de Carlos de Oliveira, “Av a r i a ”
inspirada num conto de Boris Vian e
“ Te resa” inspirada num conto de Italo
C a l v i n o .


José Garcês, des.
A l e x a n d re Herculano, autor da obra adapt.
Eurico, o Pre s b í t e ro
Futura, 1983


Luís Manuel Gaspar, des.
[Imagens que Passais pela Retina dos
Meus Olhos]
Revista Ler, Círculo de Leitore s
Adaptações de vários contos e poemas


Alice Geirinhas, des. e arg .
[Relatividade da Realidade]
Quadrado #3 / 3ª série, ASIBDP, Bedeteca
de Lisboa, Maio 2001
Baseado em “Os 3 estigmas de Palmer
Eldrich” de Phillip K. Dick


André Lemos, des.
P i e rre Louïs, autor da obra adaptada
Manual de Civilidade para Meninas
Mutate & Survive,
Associação Chili Com Carne, 2001
E x c e rt o


Isabel Lobinho, des.
Mário-Henrique Leiria, autor da obra
a d a p t a d a
Contos do Gin Tónico
Editora Forja, 1975 (reed. Cadernos Moura
BD #3 a realizar em Junho 2002)


Peter Kuper, des.
Franz Kafka, autor da obra adaptada
Give it up! And other Short Stories
NBM Publishing, 1995
Edição portuguesa a editar bre v e m e n t e
pela Mundo Fantasma


Mazan, des.
I rmãos Grimm, autores da obra adaptada
O Alfaiatezinho Va l e n t e
M e r i b é r i c a / L i b e r, 2001
A p render a ter Medo
M e r i b é r i c a / L i b e r, 2001


João Mendonça, des.
J o rge Magalhães, arg.
Almeida Garrett, autor da obra adaptada
Joaninha dos Olhos Ve rdes:
volume I, O Bem e o Mal
Edições Asa, 1993


P e d ro Nora, des.
A l b e rt Camus, autor da obra adaptada
O Vi a j a n t e
Quadrado #2 / 3ª série, ASIBDP,
Bedeteca de Lisboa, Setembro 2000
E x c e rto de “O estrangeiro ”


P e d ro Nora, des.
David Soares, arg .
M r. Burro u g h s
Col. Negra #2, Círculo de Abuso, 2000
Baseado no universo
de William S. Burro u g h s


Michel Plessix, des.
Kenneth Grahame, autor da obra adaptada
O Vento dos Salgueiro s
Witloof, 2001


Miguel Rocha, des.
G e o rge Bataille, autor da obra adaptada
E d u a rd a
Col. Prontuário #1, Edições Polvo, Bedeteca
de Lisboa, 2000

F e rnando Relvas, des. e arg .
Júlio Ve rne, autor da obra adaptada
Viagem ao Centro da Te rr a
Revista Tintin, 1980

José Ruy, des.
F e rnão Mendes Pinto, autor
da obra adaptada
F e rnão Mendes Pinto e
a sua Pere g r i n a ç ã o
M e r i b é r i a / L i b e r, 1987

David Soares, des. e arg .
S a m m a h e l
Colecção Negra #666 [3],
C í rculo de Abuso, 2001
Baseado no “Fausto”, de Thomas Mann

Vera Tavares, des.
O Medonho Composto
Iman edições, 2001
Adaptação de conto anónimo do séc. XVIII

Vários autores, des.
Jan Baetens, arg .
S e l f - S e rv i c e
Fréon, Casa Fernando Pessoa, 2001


Vários autores, des. e arg .
Conto(S) contigo
IPLB, 2002
Baseado em obras de Eça de Queirós,
Machado de Assis, Miguel To rga,
Branquinho da Fonseca e Clarice Lispector

Ilustração Editorial/Adaptação

Desenvolvimento de uma ilustração A5 (formato final, podendo ser realizada em formato maior e depois digitalizada e redimensionada) para o conto Uma Gota de Chuva na Cara, de António Lobo Antunes.
Deve ser apresentada também uma ilustração de rodapé complementar (pormenor, capitular, etc...)
Técnica Livre
Entrega de 20 esboços e pesquisa
entrega final no dia da apresentação final
dia 19 (turno 1) e 20 de Janeiro (turno 2)

Thursday, January 5, 2012

Brainstorm / 20 esboços para a próxima aula

Uma Gota de Chuva na Cara


"Se não fosse gago era-me fácil conversar com ela. Mora três quarteirões adiante do meu, apanhamos o mesmo autocarro todos os dias, eu na quarta paragem e ela na quinta, olhamos imenso um para o outro durante os vinte minutos

(meia hora quando há trânsito)

do percurso entre o nosso bairro e o ministério, ela trabalha dois andares acima de mim, subimos no mesmo elevador sempre a olharmo-nos, às vezes até parece que me sorri

(tenho quase a certeza que me sorri)

vemo-nos de longe no refeitório cada qual com o seu tabuleiro, ia jurar que me fez sinal para me sentar na mesa dela, não me sento por não ter a certeza que me fez sinal

(acho que tenho a certeza que me fez sinal)

voltamos a olhar-nos no elevador, ela volta a sorrir quando saio, volta a olhar para mim no autocarro de regresso a casa e não sou capaz de falar com ela por causa da gaguez. Ou melhor não é só a gaguez: é que como as palavras não me saem, como quero exprimir-me e não consigo, fico roxo com os olhos de fora

(pus-me diante do espelho e é verdade)

de boca aberta, cheia de dentes, a tropeçar numa consoante interminável, a encher o ar à minha volta de um temporal de perdigotos aflitos, e não quero que ela repare como me torno ridículo, como me torno feio, como me torno, fisicamente, numa carranca de chafariz, a cuspir água aos soluços num mugido confuso. Com os meus colegas do emprego é simples: faço que sim ou que não com a cabeça, resumo as respostas a um gesto vago, transformo um discurso num erguer de sobrancelhas, reduzo as minhas opiniões sobre a vida a um encolher de ombros

(mesmo que nao fosse gago continuaria a reduzir as minhas opiniões sobre a vida a um encolher de ombros)

ao passo que com ela seria obrigado a dizer coisas por extenso, a conversar a segredar-lhe ao ouvido

(se eu me atrevesse a segredar-lhe ao ouvido aposto que tirava logo o lenço da carteira para enxugar as bochechas e fugia assustada)

a segredar-lhe ao pescoço, a enredá-la numa teia de frases

(as mulheres, julgo eu, adoram ser enredadas numa teia de frases)

enquanto lhe pegava na mão, descia as pálpebras, esticava os lábios na expressão infinitamente estúpida dos namorados prestes ao beijo, e agora ponham-se no lugar dela e imaginem um gago desorbitado a aproximar-se de vocês escarlate de esforço, a abrir e fechar a boca prisioneiro de uma única silaba, a empurrar com o corpo todo um

- Amo-te

que não sai, que não consegue sair, que não sairá nunca, um

- Amo-te

que me fica preso na língua num rolhão de saliva, eu a subir e a descer os braços, a desapertar a gravata, a desabotoar o botão do colarinho, o

- Amo-te

nada, ou, pior que nada, substituído por um berro de gruta, ela a afastar-se com os braços estendidos, a levantar-se, a desaparecer porta fora espavorida, e eu sozinho na pastelaria debruçando-me ainda ofegante para o chá de limão e o pastel de nata da minha derrota definitiva. Não posso cair na asneira de conversar com ela, é óbvio que me tenho que conformar com os olhares no autocarro, com o sorriso no elevador, com o convite mudo no refeitório até ao dia em que ela aparecer de mão dada com um sujeito qualquer, se calhar mais velho do que eu mas capaz de lhe cochichar na orelha sem esforço

(há pessoas que cochicham sem esforço)

o que eu adorava explicar-lhe e não consigo até ao dia em que deixar de me olhar, de sorrir, de convidar-me a sentar a sua frente durante o almoço

(sopa, um prato à escolha entre dois, doce ou fruta, uma carcaça e uma garrafa pequena de vinho, tudo por quatrocentos e quarenta escudos não é caro)

e eu a vê-la na outra ponta do autocarro a poisar a testa no ombro de um sujeito qualquer, sem reparar em mim, sem reparar sequer em mim como se eu nunca tivesse existido e compreender que por ter deixado de existir não existi nunca, e nessa noite ao olhar-me no espelho não verei ninguem ou verei quando muito um par de olhos

(os meus)

que me censuram, um par de olhos com aquilo que ia jurar ser uma lágrima a tremer nas pestanas e a descer devagarinho pela bochecha fora, ou talvez não seja uma lágrima e apenas

(porque será inverno)

uma gota de chuva, sabem como é, a correr na vidraça."





in Algumas Cronicas by Antonio Lobo Antunes